21 de fev. de 2008

As Teorias Freudianas do Aparelho Psíquico e a Interdependência de suas Instâncias [por Thiago Mazucato]

Artigo Científico apresentado por Thiago Mazucato, para aprovação na disciplina "Teoria Psicanalítica I" no curso de Formação em Psicanálise Clínica

Resumo: O presente artigo demonstra a interdependência das instâncias psíquicas -id, ego e superego-, utilizando-se para tal do desenvolvimento histórico das teorias de Freud sobre o aparelho psíquico, passando da sua teoria inconsciente/pré-consciente/consciente até sua elaboração id/ego/superego, desembocando na gênese do ego e do superego como desenvolvimentos posteriores ao id.

Palavras-Chave: Aparelho psíquico, inconsciente, repressão, id, ego, superego.


AS TEORIAS FREUDIANAS DO APARELHO PSÍQUICO E A INTERDEPENDÊNCIA DE SUAS INSTÂNCIAS

A Primeira Teoria do Aparelho Psíquico

Ao abandonar o método catártico aprendido com o médico vienense Josef Breuer, e criar seu próprio método, denominando-o "Psicanálise", Freud chegou a sua primeira sistematização sobre a estrutura do aparelho psíquico.

Esboçado em 1900, Freud sugere que o aparelho psíquico é constituído de três instâncias: inconsciente, pré-consciente e consciente, cabendo às mesmas a regulação das tensões psíquicas.

Para um bom entendimento desta teoria é primordial o esclarecimento de dois conceitos que levaram Freud à sua elaboração: resistência e repressão.

Como resistência entende-se todos os mecanismos psíquicos que se opõem a que algo (pensamento, desejo, etc.) chegue à consciência. É a força bloqueadora, que faz com que tais pensamentos ou desejos não saiam do campo do inconsciente, pois geraria conflitos.

O conceito de repressão está intimamente ligado ao de resistência. Quando um pensamento ou desejo conflitante encontra-se no terreno da consciência, a repressão atua no sentido de "eufemizá-los", torná-los mais leves e aceitáveis, e, se possível, retirar-lhes do terreno da consciência, já que aqui geram conflitos e estão intimamente ligados aos sintomas.

Nesta primeira teoria do aparelho psíquico Freud, ao delimitar três instâncias, dá-lhes também funções bem distintas:

Ao inconsciente Freud atribuiu a função de armazenar tudo o que não fica disponível ao pré-consciente e ao consciente. É regido pelo princípio do prazer, e para tanto, armazena e protege os conteúdos que foram reprimidos, na tentativa de evitar conflitos. Estes conteúdos reprimidos podem ser por natureza inconscientes, e como tal nunca estiveram no campo da consciência, ou podem já ter pertencido a este campo e terem sido reprimidos.

O pré-consciente, intermediário entre inconsciente e consciente, tem seus conteúdos acessíveis ao consciente, como um "disco de memória" de um computador. Regido pelo princípio de realidade, é o centro da capacidade de aprender e de toda bagagem resultante do aprendizado.

O consciente é energia livre à disposição do pré-consciente, e é acionado tanto pelo mundo exterior quando pelo interior.


Nova Elaboração do Aparelho Psíquico

Após novas pesquisas e descobertas, dentre elas as fases de desenvolvimento psicossexual, incluindo aí o indivíduo desde o nascimento, Freud chega a novos conceitos sobre o aparelho psíquico, mesmo continuando constituído por três instâncias, agora identificadas por id, Ego e Superego.

Ao Id são atribuídas características semelhantes às do inconsciente, sendo a única estrutura do aparelho psíquico que as pessoas possuem ao nascer. É a sede dos impulsos inatos (tanto os agressivos, identificados pelo conceito de Tânatos, quanto os sexuais, identificados pelo conceito de Eros) e também dos desejos que são recalcados.

Assim se manifestou Marcuse:

"As principais camadas da estrutura mental são agora designadas como id, ego e superego. A camada fundamental, mais antiga e maior, é o id, o domínio do inconsciente, dos instintos primários. O id está isento das formas e princípios que constituem o indivíduo consciente e social. Não é afetado pelo tempo nem perturbado por contradições; ignora 'valores, bem e mal, moralidade'. Não visa à autopreservação: esforça-se unicamente pela satisfação de suas necessidades instintivas de acordo com o princípio de prazer." (1968, p.47)

Uma parte do Id desenvolver-se-á até formar o Ego, que será então o responsável pela percepção e representação do mundo exterior. É controlador dos impulsos do Id, tanto reprimindo os impulsos que geram conflitos com a realidade exterior como "desviando" o objeto de outros impulsos do Id. O Ego é regido pelo princípio de realidade. É também mediador entre Id e Superego.

O Superego surgirá do desenvolvimento do Ego. Admite-se que isto ocorra durante o Complexo de Édipo, em que a criança é forçada a aceitar regras sociais e lidar com proibições, limites, autoridades. O Superego busca a moral e punir as transgressões ou mesmo os desejos de transgredir. Aciona os mecanismos de "alerta" ao Ego, que efetua o serviço, gerando quase sempre o sentimento de culpabilidade.

Conclusão

O presente artigo demonstrou que as três instâncias, ou três sistemas psíquicos que constituem o aparelho psíquico não são instâncias estanques com funcionamento independente uma das outras. A própria gênese do Ego, e depois do Superego, ambos provindos do Id serve para demonstrar tal fato. E também cada sujeito desenvolve seu aparelho psíquico a seu modo, visto que, dentre os determinantes estão as relações sociais e culturais.

Referências Bibliográficas

BOCK, Ana Mercês Bahia et all. Psicologias: uma introdução ao estudo da Psicologia. São Paulo: Saraiva, 2000. 13. ed.

LAGACHE, Daniel. A Psicanálise. Rio de Janeiro: Difel, 1978.

MARCUSE, Herbert. Eros e Civilização - uma interpretação filosófica do pensamento de Freud. Rio de Janeiro: Zahar Editores, 1968. 3. ed.

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